17 de abril de 2010

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Novas Oportunidades

Aparentemente cerca de um milhão de pessoas, quase como num ápice, decidiu voltar à escola aderindo ao programa Novas Oportunidades. Isto só vem corroborar a tese de que o sucesso do programa é directamente proporcional ao facilitismo que lhe está inerente. Afinal o que interessa mesmo é, numa mera operação de cosmética, melhorar as estatísticas das qualificações académicas dos portugueses junto dos restantes países da União Europeia. Antes das Novas Oportunidades já era possível a conclusão dos estudos, com alguma flexibilidade, através do ensino recorrente. Só que este obrigava à frequência de algumas aulas e à prestação de provas de avaliação de conhecimentos, e isso… sempre dá algum trabalho. Por isso é que este ensino nunca conheceu idêntico sucesso. Mas agora, graças às Novas Oportunidades, qualquer cidadão maior com uma qualquer experiência profissional pode obter quase de forma “administrativa” um certificado de equivalência ao 9º ano ou ao 12º ano num CRVCC (Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências). Basta frequentar nestes em regime pós-laboral, uma ou duas vezes por semana, um curso visando pouco mais que a redacção da respectiva autobiografia profissional, o qual em poucos meses e em associação às supostas competências profissionais adquiridas lhe atribuirá o tão desejado diploma. É o facilitismo total ao serviço da estatística. Isto só desvaloriza o nosso sistema de ensino e todos os que nele trabalham, para além de desprestigiar todos aqueles que obtêm as suas qualificações pelas vias ditas “normais”. Se a isto juntarmos as licenciaturas “light” de apenas 3 anos decorrentes do processo de Bolonha, certamente viremos a ter muitos mais diplomados, o que será igualmente óptimo para a estatística. Mas apenas isso, porque a ignorância (ainda) não se elimina por decreto.

Novas Oportunidades

Ao ficarem todos no mesmo “patamar” só restará, muito em breve, às empresas “verdadeiramente” privadas implementarem exames de admissão para poderem aferir o verdadeiro grau de conhecimentos dos seus candidatos a emprego.

3 comentários:

  1. Eu acho muito bem que as empresas passem a realizar exames de admissão, pois eu tenho conhecimento do ambiente universitário e posso afirmar que apenas 5% dos estudantes que terminam os seus respectivos cursos são realmente profissionais, sendo que o resto realiza o curso através de métodos facilitistas que todos nós conhecemos. Se as empresas assim o fizessem estas passariam a ser mais competitivas devido a geracão de mais e melhor ideias para fazer concorrência ás tão desenvolvidas empresas estrangeiras.
    Se nós já temos tantos licenciados a meu ver incompetentes, então com isto das "Novas oportunidades" prefiro nem comentar.

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  2. O que difere um pais como o nosso dos ditos mais desenvolvidos e a superior cultura democratica dos mesmos em relacao ao nosso. Isto da exponenciacao do conhecimento nao e ideia nossa, e ja e pratica comum um pouco por todo o mundo.

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  3. Alcochete é uma prova inequívoca da inutilidade destes cursos para as pessoas e da sua enorme importância para as escolas.
    No início do ano lectivo a directora informa todos os professores de que não se marcam faltas aos alunos ou podem rapidamente perder o emprego. Isto é facilmente comprovável pela inexistência de faltas nos livros de ponto ou de apontamentos a lápis em seu lugar. Existem turmas de mais de 23 alunos, dos quais ao fim do primeiro mês restam 3 alunas, e que iniciam desta forma um ciclo de quase três anos de necessidades educativas que vão dar lugar a muita gente, que obviamente se cala. Pelo menos dois professores do último escalão remuneratório têm turmas de um aluno, à noite, pelo que a carga horária e o esforço despendido por estas pessoas é assombroso.
    Os mediadores dos cursos EFA são escolhidos preferencialmente de entre contratados sem qualquer experiência, para que não façam frente à coordenadora, única responsável pela atribuição de notas e certificados através de uma plataforma online de acesso restrito, e ficam inibidos de levantar qualquer questão, na medida em que a quase totalidade das directivas são dadas oralmente, em reuniões gerais e à revelia da direcção.
    Como prémio, os alunos, que têm idades dos 18 aos 63 anos, ou os inscritos, que conduzem à criação e abertura de turmas, por vezes inscritos em várias turmas ou funcionários da escola para fazer número, fazem umas viagens de estudo, patrocinadas sabe-se lá por quem.
    São escolhidos pelo melhor índice de motivação necessário, por ironia, atribuído aos que menos frequentam as aulas.

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