Hoje é o Dia Mundial do Trabalhador. É um portanto
um motivo para este celebrar sobretudo quando nos restantes dias há cada vez
menos razões para o fazer. Cada vez mais o Trabalho começa a ser visto como de
uma actividade pecaminosa se tratasse. O “pobre” trabalhador é esmifrado por
todos os lados. A começar pelo próprio Estado que actua como um verdadeiro
proxeneta ao entender que os rendimentos provenientes do seu Sangue, Suor e
Lágrimas devem ser mais taxados que os oriundos das aplicações financeiras e da
especulação bolsista. Pois é, o dinheiro tem “pernas” enquanto o “pobre”
trabalhador não se pode mover com tanta facilidade. Mas o mundo é dos espertos
e dos… ricos, não é? Que o diga o pré-candidato à Presidência dos EUA Mitt
Romney cuja fortuna não se coaduna com os impostos que paga. Não é à toa que
Robert Kiyosaki no seu livro “Pai Rico, Pai Pobre” advoga que em vez de
trabalharmos para termos dinheiro devemos antes colocar o dinheiro a trabalhar
para nós. Daqui se conclui que o Trabalho não é algo digno dos Ricos. É mais
“coisa” típica do Pobre. Deve ser por isso que o “pobre” trabalhador também é
esmifrado pelo seu “rico” empregador, de preferência com a conivência do
Estado.
O Estado num curto espaço de tempo reduz o valor
das indemnizações por despedimento de 30 para 20 dias e não satisfeito propõe
agora algo dentro dos 10 dias. Isto na prática visa reduzir os salários nas
futuras admissões. Será que só assim é que somos competitivos? Dizem que é para
ficarmos em paridade com o resto da Europa. Só que se esqueceram, tão
convenientemente, da outra paridade, a do poder de compra. Aliás, a Paridade do
Poder de Compra (PPC) é quase sempre esquecida, até pelos “media”, quando se
trata de estabelecer comparações com outros países. Continua-se a confundir
preço com custo. Supondo que um determinado bem tem o mesmo preço em toda a
zona Euro, na realidade ele tem um custo diferente nos vários países. Quem
ganha menos logicamente necessita de um maior esforço nessa aquisição do que
quem ganha mais. É nisto que se baseia a PPC. Não adianta estabelecer comparações
como por exemplo nos preços dos combustíveis e da electricidade sem considerar
a PPC. Basta referir que os portugueses comuns (os que ainda vão tendo trabalho)
ganham em média cerca de 55% da média da zona euro. Mas por outro lado, os nossos
“magníficos” gestores recebem, em média, mais 32% do que os americanos, mais 22,5% do que os franceses, mais 55% do que os finlandeses e mais
56,5% do que os suecos! Daqui se poderia concluir que temos excelentes gestores
e que o problema da nossa fraca produtividade tem a ver, como sempre, com os
“pobres” trabalhadores. Mas isso não é verdade, como sabemos. Não é por acaso
que Portugal é um dos países mais desiguais da Europa e do Mundo Democrático. O gráfico em baixo
demonstra bem isso. Em Portugal, os mais pobres contribuem em média com 6% dos
seus rendimentos para a austeridade enquanto os mais ricos fazem-no com… 3%.
Agora repare como aconteceu nos restantes países. E
ainda há quem diga que somos solidários uns com os outros! Se houvesse vergonha…
EE - Estónia; IE - Irlanda; EL - Grécia; ES - Espanha; PT - Portugal; UK - Reino Unido |
O Português é, na prática, invejoso mesmo quando se
trata do mérito dos outros. Isso viu-se quando este governo confiscou os
subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas deixando de fora (por enquanto)
os do privado. O governo, ciente desse sentimento onde somos campeões,
aproveitou e dividiu para… reinar. Ao acicatar os portugueses uns contra os
outros impede que estes se unam contra ele para além de garantir um maior
controlo sobre as fontes de descontentamento. Já não bastava sermos campeões na
desigualdade entre ricos e pobres, também o somos na iniquidade e na repartição
dos sacrifícios.
Quando vier o 2º resgate, dentro dos próximos 18
meses, será a vez dos privados verem também os seus subsídios confiscados, o
que se insere também nessa estratégia do “dividir para reinar”. E desta forma
também se compensará os “ricos” empregadores pela não descida da Taxa Social
Única (TSU). E quando isso acontecer, os melhores trabalhadores, sobretudo os
da classe média, vão reflectir sobre se vale a pena continuar a trabalhar em
Portugal. Aí será de esperar ainda uma maior sangria na “fuga de cérebros”.
Quem é bom naquilo que faz não precisa de se sujeitar a isto. Estamos a falar
essencialmente de pessoal altamente qualificado que investiu demasiado tempo,
esforço e dinheiro nas suas carreiras para agora ficarem condenados ao
empobrecimento. As pessoas também têm de considerar o futuro dos seus filhos. E
o Mundo é muito grande e está pleno de oportunidades para quem tem mérito.
É pena que tenha de ser assim quando se sabe que
uma classe média pujante é essencial a qualquer sociedade desenvolvida. É esta
que impulsiona a Economia na procura de bens e serviços e é esta que paga a
maior fatia de impostos, taxas e afins. Um país que aniquila a sua classe média
está condenado. Se a isto somarmos o grave problema de demografia que temos…
Quem é que vai então garantir as futuras pensões e o Estado Social?
Quem mais esmifra o “pobre” trabalhador? Os
Sindicatos. O quê? Sim, leu bem. Obviamente não todos, mas a maior parte. Eu
explico melhor. Quando temos Sindicatos que se furtam ao diálogo, à concertação
e usam e abusam do direito à greve banalizando-a, quem é que sai mais
prejudicado? O trabalhador naturalmente.
É muito feio utilizar os trabalhadores como arma de arremesso político sobretudo quando se trata de querer dar provas de liderança e de afirmação. A demasiada politização dos Sindicatos faz com que estes se confundam por vezes com certos Partidos e respectivas agendas. Vale tudo para tentar capitalizar o descontentamento do “pobre” trabalhador. Mas existem excelentes exemplos de Sindicalismo como o que tem vindo a ser praticado na Autoeuropa.
É muito feio utilizar os trabalhadores como arma de arremesso político sobretudo quando se trata de querer dar provas de liderança e de afirmação. A demasiada politização dos Sindicatos faz com que estes se confundam por vezes com certos Partidos e respectivas agendas. Vale tudo para tentar capitalizar o descontentamento do “pobre” trabalhador. Mas existem excelentes exemplos de Sindicalismo como o que tem vindo a ser praticado na Autoeuropa.
Os Sindicatos são essenciais sobretudo em alturas
como esta. É importante que deixem de dar “tiros nos pés” e reforcem o seu
papel e credibilidade.
A greve devia ser utilizada como ultimo recurso mas em Portugal fazem-se greves por tudo e por nada. Os sindicatos fazem politica em vez de defenderem os trabalhadores e no fim de contas são eles quem paga a fatura. Estica-se muito a corda e ela rebenta sempre pelo lado mais fraco. Os grevistas de hoje comportam-se como meninos mimados que fazem birra se não lhes for dado o que querem. Só que esquecem-se que o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro.
ResponderEliminarDesculpe, mas eu vivo na França e aqui os sindicatos utilizam os mesmos métodos que ai ! Aqui, todos os dias temos uma greve ! Tenho impressão que eles são iguais por todos os lados. Utilizam os trabalhadores para os seus interesses próprios. Podemos lamentar, mas é assim !
EliminarGostei muito do gráfico e da situação da PPC...è algo que deveriamos mostrar aos nossos politicos e a todos, para que todos possam ver a forma despudurada e sistemática nos roubam e mentem...
ResponderEliminarQual a fonte do gráfico?
Poderá consultar a fonte do gráfico bem como todo o documento no qual este está inserido em:
Eliminarhttp://www.socialsituation.eu/research-notes/SSO2011 RN2 Austerity measures_final.pdf
Obrigado, já o estou a ler.Muito bom Este era um daqueles que valeria a pena traduzir para portugês e publicita-lo.
EliminarBelíssimo artigo... Parabéns pela análise e coerência.
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